Uma investigação fotográfica sobre feiras especializadas em economia criativa e consumo consciente em São Paulo.

PESSOAS
Desde abril de 2016, quando a Feira Jardim Secreto realizou sua primeira edição na Praça Dom Orione, no Bixiga, o público que frequenta o evento tem aumentado. Ainda que esse crescimento não tenha sido sempre constante, é evidente a amplificação do projeto e de seu alcance, uma vez que a próxima edição da feira, a acontecer em 15 de dezembro, já tem o maior número de interessados de sua trajetória em evento no Facebook: 15 mil pessoas.
Quem são essas 15 mil pessoas que se interessam pela Jardim Secreto? Quem são as pessoas que se interessam por esse tipo de evento – feiras, bazares e mercados de economia criativa e consumo consciente – e as frequentam? E qual a motivação desse público? Através de fotografias, infográficos e depoimentos, conheça esse público e entenda um pouco mais de sua relação com as feiras.
QUEM SÃO?

Para compreender melhor quem é o público das feiras de nicho, foi elaborado um questionário e divulgado via Facebook para entender um pouco do perfil desses frequentadores. Foram obtidas 152 respostas de pessoas que já foram a alguma feira, bazar ou mercado de economia criativa e consumo consciente. No formulário, havia questões sobre idade, gênero com o qual se identifica, cor ou raça (de acordo com os parâmetros propostos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), grau de escolaridade, renda média e cidade onde mora. No caso de a cidade em questão ser São Paulo, os entrevistados informaram também o bairro onde moram para que fosse possível compreender de qual região vem a maior parte do público.
COMO SE
RELACIONAM
COM A FEIRA
As respostas dos 152 entrevistados também auxiliaram no entendimento da cena das feiras de nicho em São Paulo, uma vez que revelaram um pouco sobre o modo como o público se relaciona com tais eventos. Sobre esse aspecto, foram respondidas as seguintes questões: Como conheceram as feiras? Como se deslocam até elas? O que os atrai? O que compram? Quanto gastam? Acreditam que as feiras promovem ou não o conceito de consumo político?
No formulário, consumo político foi definido como aquele que define os consumidores como sujeitos ativos e não indivíduos alienados ou manipulados. A ideia define o processo de seleção de mercadorias como um ato que pode envolver uma forma de manifestação de concordância, solidariedade e apoio a uma ideia, a uma causa, por vezes, pautadas pelos movimentos sociais.

O QUE DIZEM
O que faz o público sair de casa para ir até as feiras? Do que gostam mais no evento: do ambiente, dos produtos ou do lazer? O que os atrai nesse formato de comércio? O que gostam de comprar? Fizemos esses questionamentos ao público das duas últimas edições da Feira Jardim Secreto, em 18 de agosto e 6 de outubro – a última foi um especial de Dia das Crianças. Passe o mouse sobre as fotos e veja as respostas.
“Acabei conhecendo muita coisa por aqui e fui investigando mais, outras marcas parecidas. É tudo bem do meu interesse porque cozinho, sou designer gráfica, já tive um restaurante. Então para mim é bem legal essa história de marcas pequenas que conseguem sobreviver nesse tipo de feira, internet e só.”
Marina
“Gosto muito daqui, do climinha desta praça [Dom Orione, no Bixiga]. Já trouxe amigos aqui de domingo, quando tem a Feira de Antiguidades e aos sábados vou sempre à feira da Praça Benedito Calixto. Estou sempre por ali, bebendo uma cervejinha. É gostoso de ficar. Gosto muito dessa ideia de ocupar o espaço público. Acho que a gente devia fazer mais isso – e essas feiras são a chance de trazer mais gente, viver mais ao ar livre.”
Gabriela
“Vim para a feira porque queria encontrar uma amiga. Ela sempre sabe de lugares bacanas em São Paulo, feirinhas, lugarzinhos gostosos. Eu adorei! Foi a primeira coisa que falei para ela: ‘Nossa, que máximo este lugar’. Achei superinteressante, e dias ruins, como hoje, não nos impedem muito de sair para se divertir, de ver quem a gente gosta.”
Jessica
“O bairro [Bixiga] é maravilhoso e a feira propõe o acontecimento de diversas artes. Tudo isso agrega também ao público infantil e é massa! Eu tenho uma filha de 4 anos, então aqui é um programa incrível para ela. É o que me traz aqui: a diversidade de arte, de público e de tudo o que ela proporciona.”
Jessica
“Acho incrível que a maioria dos produtos é feita manualmente. É ótimo. Tem um produtor aqui, por exemplo, que vende essências e se você traz o vidrinho de volta ele dá um desconto. Acho isso legal e não acontece sempre. Além disso, é um lugar público, onde você pode trazer a família, trazer todo mundo.”
Bruno
“É legal ter este espaço de exposição, de troca, de consumo de marcas e produtos pequenos. Se a gente parar para pensar, é um ponto de resistência diante das grandes marcas, dos grandes conglomerados. Acho que consumir localmente – não necessariamente no sentido de que os expositores são daqui –, de pequenos produtores, dá um valor a mais aos produtos.”
Samuel
“O conceito que está por trás da feira é muito legal: as pessoas poderem sair de um formato ‘x’ de vida e fazer o que acreditam, seja uma comida vegana, seja um café bom... E acho que é um movimento mesmo. As pessoas cada vez mais querem saber de quem elas compram. É um consumo mais consciente. Em vez de comprar 30 calças em uma loja que usa trabalho escravo, você vai comprar duas que vai usar mais. É uma mudança de consciência e é por isso que acho que as feiras vão continuar rolando.”
Ana Naja
"A minha coisa favorita na feira é a sensação de estar em meio a pessoas que são parecidas com você. Acho que existem algumas ilusões da minha parte, mas lá parece que eu entro na minha bolha. Eu gosto muito dessa sensação, principalmente nos últimos tempos de crescente hostilidade. É um espaço muito seguro nesse sentido. Além disso, a feira tem uma aura muito interessante, que torna o consumo menos esquisito. Tem essa ideia de levar as pessoas de volta a uma época em que o consumo era mais lento."
Bárbara
“O que eu achei mais interessante foi o chamamento com a música. Isso é muito legal e trazer o público infantil é importante. Aliás, eu vim a princípio por causa da música. Eu estava passando do outro lado da rua e ouvi um som. Aí vim para cá e dei uma passada nas barracas.”
Eric
“Sempre que chega o fim de semana me dá uma vontade de sair porque eu gosto de ver o que está acontecendo na cidade. Eu também me interesso muito por arte e artesanato, então vim ver o que as pessoas estão produzindo. Acho que os produtos artesanais têm um apelo diferente dos industriais, que geralmente encontramos no shopping. Prefiro os artesanais, principalmente se forem produtos decorativos, quando a beleza faz parte da função do produto.”
Alexandre, à esquerda
“O ambiente da feira é supergostoso. Tem um monte de gente, é legal ficar vendo pessoas diferentes. E, além disso, aqui em volta da praça [Dom Orione, no Bixiga] tem um monte de lugares legais para ir.”
Stella
“Acho que esse tipo de feira fomenta os pequenos produtores, com produtos mais artesanais. Os lojistas das redes que estão nos shoppings, por exemplo, pagam um absurdo de aluguel, vendem o produto em escala, então é tudo mais engessado comercialmente. Acho que aqui rola uma criatividade, todo mundo tem um quê de criativo.”
Felipe
“Gosto mais da gastronomia, tem uma diversidade muito grande. Tem as pessoas que são especializadas em pimenta, outras em geleias, em conservas. Dá para perceber que quem fabrica é apaixonado. Eles vão a fundo. Por exemplo, o cara que vende pimenta tem mil variações de pimenta. No supermercado você acha dois, três tipos. É um pessoal que realmente explora. Eles entendem do assunto e querem fazer um produto diferenciado.”
Carlos
“Acho as feiras muito legais porque você pode conversar com o próprio produtor. Na barraquinha do mel, por exemplo, a moça me explicou que eram eles mesmos quem colhiam o mel e tudo mais. Acho que isso acaba aproximando muito o consumidor e você consegue saber como foi todo o processo, até eles chegarem aqui com o produto. É muito bacana saber de onde veio, como foi feito, e ver se o preço que você está pagando realmente tem coerência com o produto que está recebendo.”
Cristiana
“É a minha primeira vez em uma feira e gostei principalmente do carinho, com as embalagens, etc. A gente vê como eles cuidam para entregar o produto para a gente. Isso me chamou atenção.”
Solange