Uma investigação fotográfica sobre feiras especializadas em economia criativa e consumo consciente em São Paulo.

O QUE
SE PRODUZ
o que é upcycling?
Técnica de reaproveitamento de um material que seria descartado sem degradar suas características e composição; o resultado é
um novo produto, de igual ou melhor qualidade que o original. Em matéria do portal Lilian Pacce, conheça a história da Comas, marca de roupas que trabalha com upcycling.
As feiras, mercados e bazares estudados aqui revisitam uma fórmula bastante antiga e conhecida de fazer comércio. Desta vez, porém, apresentam-se com uma nova roupagem: a do consumo consciente e da economia criativa. Tal movimento vem conquistando um público cada vez mais preocupado em adquirir um produto sustentável e fruto de um trabalho original, cujo processo de feitio respeita o ambiente e aqueles que fazem parte da cadeia de produção. O consumo consciente se garante na produção e na comercialização de itens elaborados a partir de procedimentos e matérias-primas, sempre que possível, sustentáveis. Com esse objetivo, os produtores lançam mão de técnicas baseadas na reciclagem, na reutilização, no upcycling, no uso de materiais naturais e/ou orgânicos, entre outros, visando a um processo produtivo e ao futuro descarte de um produto final que gere cada vez menos resíduos.
O rótulo da economia criativa, por sua vez, chama atenção por remeter a produtos criativos, idealizados de uma forma nova e mais interessante. O conceito, porém, abrange um espectro bastante amplo. O Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), no estudo Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, realizado em 2016, explica que a indústria criativa no Brasil é dividida em 13 segmentos, agrupados em quatro áreas: consumo (publicidade, arquitetura, design e moda), cultura (expressões culturais, patrimônio e artes, música e artes cênicas), mídias (editorial e audiovisual) e tecnologia (Pesquisa e Desenvolvimento, biotecnologia e tecnologias da informação e da comunicação). As feiras de nicho, como evento que fomenta o comércio e o lazer, movimentam diversos desses segmentos (ao menos publicidade, design, moda, expressões culturais – por meio do artesanato e da gastronomia –, patrimônio e artes – pelo artesanato –, música e mídias) – e seus produtos traduzem tal incentivo de forma física com muita variedade e inovação.
FEITO
À MÃO
As hashtags “feito à mão” e “compre de quem faz” foram as duas mais utilizadas entre 30 feiras de economia criativa e consumo consciente de janeiro a outubro de 2018 (veja quais foram as outras tags compiladas aqui). O feito à mão e a possibilidade de comprar diretamente daquele que esteve envolvido na produção da marca são um dos grandes chamarizes lançados pelas feiras para atrair público e para incentivar um consumo mais criterioso e responsável. E o público responde bem à proposta. Em artigo da Trama – Indústria Criativa em Revista (Dossiê Gênero e Indústria Criativa: Produção, Representação e Consumo), desenvolvida na Universidade Estácio de Sá (RJ) em julho de 2018, uma pesquisa com 103 entrevistados de diversos estados do país indica que entre as principais motivações para ir às feiras ou bazares estão a prática do consumo consciente (49,5%), a possibilidade de consumir itens artesanais (43,7%) e as marcas que expõem nesses eventos (23,3%).
Em São Paulo, uma dessas marcas é a Sekai Ateliê (veja a galeria abaixo), que participa de diversas feiras e vem conquistando o público admirador de plantas e objetos decorativos com seus terrários e kokedamas – espécie de arranjo suspenso de plantas, sem a necessidade de vasos e afins. Quem cuida da produção é Roseli Tangi, que começou a se envolver com jardinagem depois de se aposentar. “Sempre gostei de fazer coisas manuais e quando me aposentei quis fazer algo. Passei por várias coisinhas até que fiz um curso de jardinagem e comecei a me achar. Primeiro, fiz um jardim vertical em casa. Aí uma amiga me deu umas dicas de terrários e comecei a fazer. Depois, vieram os kokedamas: vi um monte de vídeos na internet e fui fazendo. Eu fazia para o pessoal de casa, para a família, para os amigos. Teve um Natal que todo mundo ganhou terrário e kokedama!”, conta. Aos poucos, o que era hobby foi crescendo e a Sekai começou a participar das feiras.
Apesar do crescimento, a produção do ateliê continua 100% manual. “Eu faço um por um”, explica Roseli. Ela conta que a prática a ajudou na agilidade da produção. “O primeiro terrário em garrafa long neck que fiz levou duas horas. Eu colocava, tirava, não dava certo. Agora em dez minutos eu faço, peguei o jeito. Já sei qual planta fica bem, qual não fica. Já o kokedama depende do tamanho. Alguns dão mais trabalho porque você mexe com terra, suja bastante. Faço lá na garagem de casa. Um pequeno leva uns vinte minutos. Já um grandão faço em uma hora, uma hora e meia”. Às vezes acontece de a marca receber pedidos maiores e então Roseli conta com alguns ajudantes. Eles colocam a terra e os pedriscos nos terrários, mas é ela quem encaixa a planta. “Eu que tenho o jeito de fazer”, diz. Apesar de vez ou outra precisar de braços extras, ela não se queixa do volume de trabalho: “Gosto bastante, é meu passatempo. É um trabalho? É, sim, mas eu me divirto muito”.
foto: Victória Pimentel
foto: Victória Pimentel
Imagens da produção manual de kokedamas e terrários por Roseli, do Sekai Ateliê. Com exceção das fotos creditadas, todas são de Lilian Higa.
EM TEMPO REAL
É muito comum se deparar com algum produtor em ação nas feirinhas e bazares, elaborando algum produto ao vivo e mostrando ao público como é o seu trabalho. O ateliê Huge, por exemplo, apresenta em uma arara algumas referências de pinturas em camisetas. O cliente escolhe qual estilo de desenho gosta mais e Hugo, produtor da marca, pinta uma nova peça. Esta, porém, será única. “Os traços nas camisas viram uma referência, já que não é possível reproduzi-los de forma idêntica. É arte em tecidos”, explica o ateliê em seu site oficial. A seguir, observe o passo a passo da pintura em camisetas.
Quanto custa?
Se os produtos vendidos nas feiras de nicho têm o valor agregado do feito à mão, do sustentável, do singular – e, às vezes, do personalizado –, o que é possível dizer sobre o preço deles? Equivalem ao preço dos produtos vendidos nas grandes redes de lojas e shoppings? O gráfico abaixo ajuda a entender melhor o cenário das feiras de economia criativa e consumo sustentável do ponto de vista econômico.
A partir de pesquisa com 20 marcas de cada um dos nichos acessórios, artes gráficas e papelaria, comidas e bebidas, design e decoração, perfumaria e vestuário, indicam-se as médias dos preços mais altos e dos preços mais baixos entre as marcas, demonstradas junto à reta horizontal. Nos picos superiores e inferiores, por outro lado, indica-se o preço mais alto e o mais baixo encontrados em cada nicho.

Para construir o gráfico, foram coletados preços de 20 marcas de cada um dos seis nichos em três diferentes feiras: Jardim Secreto, Mercado Manual e Fair&Sale.